quinta-feira, 30 de junho de 2016

Segovia


Antes do Leo nascer, tive um sonho onde sobrevoava uma cidade antiga, linda, casas construídas com pedras, uma paisagem de vegetação amarelada com uma igreja no meio e estradas sinuosas. Era como se eu conhecesse intimamente aquela cidade, porém não sabia qual era. Nesta vida, de fato, e naquele momento, ainda não a conhecia fisicamente.

Quando fui encontrar o Carlos em Madrid, eu já conhecia a Espanha, mas não Segovia e ele me levou até a cidade onde nasceu. Foi um passeio maravilhoso, um frio lascado, pois era inverno, e nós, brasileiros, sentimos mais ainda por não estarmos acostumados as temperaturas um pouco mais baixas.

Paramos o carro na parte baixa da cidade, e fomos subindo a pé, curtindo aquele solzinho de inverno que nos aquecia o corpo e a alma. As sensações eram maravilhosas pois estava com a pessoa pela qual havia viajado mais de 8000 Km, num local romântico e muita história já vivida e a ser vivida.


Eu estava já extasiada com a cidade, e então, me deparo com o famoso Acueducto de Segovia. Impressionante!!!! Alto, forte, imponente e majestoso como o meu segoviano.

Nos dirigimos ao Candido, um restaurante famoso e tradicional no mundo gastronômico, que faz um magnífico cochinillo, cortado com um prato de tão macio, mas apenas para ser apresentada ao Chef pois era cedo demais para a “comida”. O Carlos já é mais conhecido que eu por aqui, imaginem lá.






Continuamos nossa caminhada pela Calle Real com várias paradas para fotos porque, eu, eu estava, nem sei qual adjetivo mais usar, louca com tanto tudo.

Passamos pela Calle Mayor disfrutando e apreciando cada momento, cada detalhe, cada minuto e, um pouco antes de chegar no Alcazar, paramos num mirante e aí foi a grande surpresa. 




A vista do mirante era igual a cidade que eu havia sonhado anos atrás. EXATAMENTE IGUAL. IMPRESSIONANTE.

Comentei com o Carlos e ele sorriu, achou divertido, ele não é muito ligado, como eu, a essas coisas de vidas passadas, sonhos e carmas. Um dia farei um post sobre meus sonhos, os sonhos sempre foram especiais na minha vida.

Estava admirando a paisagem, entretida em meus próprios pensamentos e louca para entrar no Alcazar, estava localizada a poucos passos dele, quando o telefone toca. Era a Myrian, irmã do Carlos, minha cunhada querida, que estava prestes a conhecer. 



Nunca me esquecerei de como fiquei naquela hora. Ela começou a dizer que estávamos atrasados para o almoço que havia preparado para mim e todos já haviam chegado. 


Eu tentei negociar com o Carlos um “atrasinho” para não deixar de entrar no castelo mas foi impossível, depois descobri o por que. Essa minha cunhada é adorável, doce e um furacão ao mesmo tempo, um Vesúvio espanhol.

Fui feliz conhecê-la mas nem preciso dizer que quando voltei a Segovia, com o Leo bem junto de mim, qual foi o primeiro lugar a ser visitado, não é mesmo? Até hoje brinco com ela contando a minha frustração de não ter entrado no Alcazar naquele momento.

Seguimos para um restaurante chamado El Rancho de la Aldegüela e conheci a Myri, o Rafa, que ainda era namorado dela na época, e vários casais de amigos deles. Foi uma comida agradabilíssima.

Tentem imaginar a cena: eu, apaixonada e brasileira, com o Carlos, por incrível que pareça estava tímido, creio que por minha presença, no meio de mais oito pessoas espanholas, discretíssimas como todo bom espanhol, falando sobre a sensualidade da mulher brasileira.

Na época pensei que estavam se matando na mesa, agora, começo entender um pouco sobre a forma de ser do meu marido e seus conterrâneos. Era apenas um bate-papo entre amigos num almoço de final de semana.



Quase morri de vergonha mesmo, mas foi inesquecível. E o Carlos ainda conta do fora que dei num restaurante, na noite anterior, pedindo sopa de polla. Pollo, para quem não sabe, é frango em espanhol, e eu imaginei que o feminino seria polla, ai meu Deus, polla é pinto, órgão sexual masculino....Foi inesquecível mesmo !!!!! Sem comentários.

Na época eu falar espanhol muito bem, o gringonês. Modéstia a parte, hoje eu falo melhor espanhol que ele português, ele nunca concorda com isso. Mas aqui em casa sempre rola uma disputa sobre idiomas e ele teima que fala inglês melhor que eu. Na verdade, ele tem a língua solta e uma personalidade marcante que para se relacionar com as pessoas fala até mandarim. E eu sou travadona.

Na noite seguinte, conheci minha sogra. Ela estava, acho que na Suíça, não lembro muito bem, então demorou um pouco para poder encontrá-la. Estava nervosa, afinal ia ver a “sogra” e elas não tem uma fama muito boa.


Nos demos muito bem e contei que fiquei impressionada com a vista do mirante em Segovia, inclusive com a Igreja românica de Vera Cruz.










Anos depois, em uma de suas visitas a nossa casa, fui presenteada com uma pintura feita por ela, nada mais nada menos que a cena do meu sonho. Fica na minha sala de estar, em destaque e intocável.






E sempre que vou a Espanha tenho que passar por Segovia, sempre. Afinal faz parte da minha vida, dos meus sonhos, e eu nem sei desde quando.

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