Antes do Leo nascer, tive um sonho onde sobrevoava uma
cidade antiga, linda, casas construídas com pedras, uma paisagem de vegetação
amarelada com uma igreja no meio e estradas sinuosas. Era como se eu conhecesse intimamente aquela
cidade, porém não sabia qual era. Nesta vida, de fato, e naquele momento, ainda
não a conhecia fisicamente.
Quando fui encontrar o Carlos em Madrid, eu já conhecia a
Espanha, mas não Segovia e ele me levou até a cidade onde nasceu. Foi um
passeio maravilhoso, um frio lascado, pois era inverno, e nós, brasileiros,
sentimos mais ainda por não estarmos acostumados as temperaturas um pouco mais
baixas.
Paramos o carro na parte baixa da cidade, e fomos
subindo a pé, curtindo aquele solzinho de inverno que nos aquecia o corpo e a
alma. As sensações eram maravilhosas pois estava com a pessoa pela qual havia
viajado mais de 8000 Km, num local romântico e muita história já vivida e a ser
vivida.
Eu estava já extasiada com a cidade, e então, me deparo com o famoso Acueducto de Segovia. Impressionante!!!! Alto, forte, imponente e majestoso como o meu segoviano.
Nos dirigimos ao Candido, um restaurante famoso e
tradicional no mundo gastronômico, que faz um magnífico cochinillo, cortado com
um prato de tão macio, mas apenas para ser apresentada ao Chef pois era cedo
demais para a “comida”. O Carlos já é mais conhecido que eu por aqui, imaginem
lá.
Passamos pela Calle Mayor disfrutando e apreciando cada
momento, cada detalhe, cada minuto e, um pouco antes de chegar no Alcazar,
paramos num mirante e aí foi a grande surpresa.
A vista do mirante era igual a
cidade que eu havia sonhado anos atrás. EXATAMENTE IGUAL. IMPRESSIONANTE.
Estava admirando a paisagem, entretida em meus próprios pensamentos e louca para entrar no Alcazar, estava localizada a poucos passos dele, quando o telefone toca. Era a Myrian, irmã do Carlos, minha cunhada querida, que estava prestes a conhecer.
Nunca me esquecerei de como
fiquei naquela hora. Ela começou a dizer que estávamos atrasados para o almoço
que havia preparado para mim e todos já haviam chegado.
Eu tentei negociar com
o Carlos um “atrasinho” para não deixar de entrar no castelo mas foi impossível,
depois descobri o por que. Essa minha cunhada é adorável, doce e um furacão ao
mesmo tempo, um Vesúvio espanhol.
Fui feliz conhecê-la mas nem preciso dizer que quando voltei
a Segovia, com o Leo bem junto de mim, qual foi o primeiro lugar a ser visitado,
não é mesmo? Até hoje brinco com ela contando a minha frustração de não ter
entrado no Alcazar naquele momento.
Seguimos para um restaurante chamado El Rancho de la Aldegüela
e conheci a Myri, o Rafa, que ainda era namorado dela na época, e vários casais
de amigos deles. Foi uma comida agradabilíssima.
Tentem imaginar a cena: eu, apaixonada e brasileira, com o
Carlos, por incrível que pareça estava tímido, creio que por minha presença, no
meio de mais oito pessoas espanholas, discretíssimas como todo bom espanhol, falando
sobre a sensualidade da mulher brasileira.
Na época pensei que estavam se matando na mesa, agora,
começo entender um pouco sobre a forma de ser do meu marido e seus conterrâneos. Era apenas um bate-papo entre amigos num almoço de final de semana.
Quase morri de vergonha mesmo, mas foi inesquecível. E o
Carlos ainda conta do fora que dei num restaurante, na noite anterior,
pedindo sopa de polla. Pollo, para quem não sabe, é frango em espanhol, e eu
imaginei que o feminino seria polla, ai meu Deus, polla é pinto, órgão sexual
masculino....Foi inesquecível mesmo !!!!! Sem comentários.
Na época eu falar espanhol muito bem, o gringonês. Modéstia
a parte, hoje eu falo melhor espanhol que ele português, ele nunca concorda com
isso. Mas aqui em casa sempre rola uma disputa sobre idiomas e ele teima que
fala inglês melhor que eu. Na verdade, ele tem a língua solta e uma
personalidade marcante que para se relacionar com as pessoas fala até mandarim.
E eu sou travadona.
Na noite seguinte, conheci minha sogra. Ela estava, acho que
na Suíça, não lembro muito bem, então demorou um pouco para poder encontrá-la. Estava
nervosa, afinal ia ver a “sogra” e elas não tem uma fama muito boa.
Nos demos muito bem e contei que fiquei impressionada com a vista do mirante em Segovia, inclusive com a Igreja românica de Vera Cruz.
Anos depois, em uma de suas visitas a nossa casa, fui presenteada com uma pintura feita por ela, nada mais nada menos que a cena do meu sonho. Fica na minha sala de estar, em destaque e intocável.
E sempre que vou a Espanha tenho que passar por Segovia,
sempre. Afinal faz parte da minha vida, dos meus sonhos, e eu nem sei desde quando.