Foto: Campanha da Dolce &
Gabana 2015
O protagonista da
campanha é o toureiro José Maria ManzanaresNão vou entrar aqui na questão polêmica de se manter ou não as touradas, esse não é meu objetivo.
Vou apenas relatar um pouco o
que é e sua história, que como a dança flamenca ou a paella, fazem parte da
identidade cultural de um país que eu tanto aprecio, a Espanha.
Como
surgiu a tourada?
Na Espanha do século III a.C., a caça aos touros selvagens já era um esporte popular, com raízes em cultos religiosos ancestrais. “O animal era celebrado como deus da fertilidade pelos povos mediterrâneos da Antiguidade. Antes dos casamentos, o ritual exigia que o noivo matasse um touro para invocar uma união próspera”, diz o antropólogo holandês Marco Legemaate, especialista no assunto. No início da Idade Média, por volta do século V, a matança do bicho havia se consagrado, na península Ibérica, como exercício de coragem e destreza e os touros eram perseguidos até a exaustão por multidões, também comemorando casamentos, nascimentos e batizados. Algo parecido ocorre até hoje na festa de São Firmino, em Pamplona – onde, todo ano, mais de 2 mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola – e na famigerada Farra do Boi, aqui mesmo no Brasil, em Santa Catarina.
Na Espanha do século III a.C., a caça aos touros selvagens já era um esporte popular, com raízes em cultos religiosos ancestrais. “O animal era celebrado como deus da fertilidade pelos povos mediterrâneos da Antiguidade. Antes dos casamentos, o ritual exigia que o noivo matasse um touro para invocar uma união próspera”, diz o antropólogo holandês Marco Legemaate, especialista no assunto. No início da Idade Média, por volta do século V, a matança do bicho havia se consagrado, na península Ibérica, como exercício de coragem e destreza e os touros eram perseguidos até a exaustão por multidões, também comemorando casamentos, nascimentos e batizados. Algo parecido ocorre até hoje na festa de São Firmino, em Pamplona – onde, todo ano, mais de 2 mil pessoas correm dos touros soltos nas ruas da cidade espanhola – e na famigerada Farra do Boi, aqui mesmo no Brasil, em Santa Catarina.
Mas o registro mais antigo de
algo semelhante às touradas atuais só aparece em 1135, como parte dos festejos
da coroação de Afonso VII, rei de Leão e Castela. Nessa época, porém, o
toureiro era um nobre que enfrentava o touro montado a cavalo e armado de uma
lança. “Esse era o teste supremo na preparação dos cavaleiros medievais
espanhóis”, afirma Legemaate. Para os plebeus, restava o papel de escudeiro,
que, a pé, ajudava a liquidar o bicho. Esses papéis seriam invertidos numa
surpreendente reviravolta histórica. Com a chegada à Espanha da dinastia
francesa dos Bourbon, no início do século XVIII, a nobreza local abandonou
diversões rústicas como essa para se entregar aos prazeres da corte, deixando a
arena livre para camponeses e boiadeiros criarem a tourada moderna. Resultado:
o antigo escudeiro assumiu o papel principal de toureiro e o cavaleiro passou a
ser o mero coadjuvante que ajuda a minar a resistência do animal.
“Aí começam a surgir o
repertório de técnicas e manobras e o conjunto de regras que definem a tourada
como arte popular”, afirma Maria de La Concepción Valverde, professora de
literatura espanhola da Universidade de São Paulo (USP). A figura-chave nesse
processo, ainda no século XVIII, foi o lendário Francisco Romero, o primeiro
toureiro profissional, creditado como introdutor da espada, para liquidar o
touro, e da muleta, uma capa de tourear menor. Entre 1910 e 1920, a tourada
atingiria seu apogeu como febre nacional, estimulada pela rivalidade entre
Joselito e Belmonte, famosos por criarem novas manobras espetaculares. Hoje, as
325 arenas espanholas são palco de 17 mil touradas por ano, movimentando mais
de 1 bilhão de dólares e empregando 200 mil pessoas – quase 1% da força de
trabalho do país.
Sangue
e areia
A
luta entre homem e animal é de vida ou morte
1. No início, a única defesa do
toureiro é o capote, capa vermelha de forro amarelo. Incapaz de distinguir
cores, o bicho é atraído pelo movimento do pano – o vermelho só serve para
disfarçar as manchas de sangue. A manobra fundamental é a verónica: o toureiro
segura o capote com as duas mãos e dribla o animal com um recuo de pernas
2. Especialmente treinados
para a batalha, os touros pertencem à espécie selvagem mais feroz que existe:
Bos taurus ibericus. Eles ficam no mínimo três anos em cativeiro à espera da
arena, mas nem os sobreviventes retornam a ela: os touros têm uma memória tão
impressionante que poderiam fugir de uma segunda luta
3. Enquanto o matador cansa o
touro, entram em ação os picadores, cavaleiros com lanças que espetam o animal
para diminuir a força dos músculos do pescoço e das patas dianteiras. Três
estocadas bastam para o touro perder quase 2 litros de sangue. Mesmo vendado e
protegido por lonas de algodão e camurça, o cavalo também sai ferido com os
ataques
4. Outros ajudantes do
toureiro, os banderilleros, fincam varas com ponta de arpão na traseira do
pescoço do touro, região cheia de terminações nervosas. O objetivo é enfurecer
o bicho para o final da luta. Em geral, seis banderillas são cravadas, uma para
cada ataque do banderillero, que atua sem proteção
5. No final da luta, o matador
enfrenta o touro com a muleta, uma capa vermelha de apenas 56 cm de largura
montada num bastonete de madeira, toureada com apenas uma das mãos. Com o
toureiro cada vez mais próximo do bicho, as manobras ficam mais arriscadas
6. O toureiro coloca o animal
na posição ideal para o sacrifício, distraindo-o com a muleta e mantendo-o de
cabeça baixa e com as patas dianteiras unidas. Assim, fica descoberto o “olho
das agulhas”, região entre os ossos na junção do pescoço, que deve ser atravessada
com a espada para que o touro tenha uma morte rápida
7. Se a lança de 90 cm de aço
atinge a aorta do bicho, a morte é instantânea. Ao todo, a luta dura cerca de
45 minutos e, para o toureiro, o prêmio máximo para um desempenho excepcional é
receber as orelhas e a cauda do animal. Pela tradição, os animais mortos são
vendidos a açougues depois de retirados da arena
Fonte: Revista Super
Interessante
Arte
e touradas
“Na maioria das civilizações o
touro, tema central da exposição, é um símbolo místico que significa força,
coragem e fertilidade. Esta força animal que os touros mostram é retratada de
forma fascinante nas obras destes artistas”, explica Monika Bourian Jourdan.
“Para os artistas, a tourada não representa apenas um espetáculo. Para Goya,
por exemplo, tauromaquia foi inicialmente uma ferramenta para expressar sua
dissidência política. A exposição apresentará a série completa de gravuras
Tauromaquia, de Goya, uma das suas séries mais famosas”.
O artista espanhol Francisco
Goya foi o primeiro a representar visualmente a história das touradas, com a
série de 33 gravuras em água-forte denominada "Tauromaquia", iniciada
em 1815. Além de mostrar como as touradas surgiram e evoluíram, as gravuras
descrevem as touradas como eram perto de 1800 [fonte: Schulz].
Goya, por sua vez, usou a tauromaquia para expressar sua dissidência política contra os nobres, opressores do povo. Suas obras retrataram a tourada como uma arena mística, em que algo está sempre acontecendo.Vista como um confronto entre a liberdade e a força bruta, a tauromaquia pode também ser interpretada neste conjunto de obras como uma metáfora do poder opressor ou da capacidade para autoafirmação e emancipação. Em muitas civilizações, o touro, figura central desta mostra, tem o significado de força, bravura e fertilidade.
Goya, por sua vez, usou a tauromaquia para expressar sua dissidência política contra os nobres, opressores do povo. Suas obras retrataram a tourada como uma arena mística, em que algo está sempre acontecendo.Vista como um confronto entre a liberdade e a força bruta, a tauromaquia pode também ser interpretada neste conjunto de obras como uma metáfora do poder opressor ou da capacidade para autoafirmação e emancipação. Em muitas civilizações, o touro, figura central desta mostra, tem o significado de força, bravura e fertilidade.
Picasso foi influenciado por Goya. Baseou-se no uso do conhecimento do “chiaroscuro” (luz e sombra) de Goya para a produção de sua própria obra, utilizando-a como instrumento de protesto contra a ditadura do General Franco. Picasso e Goya utilizaram este tema para manifestar profundo sofrimento e resistência à opressão.
Nos anos 1966-67, Salvador Dalí transformou a
famosa “Tauromaquia Suite” (1957-59), de Picasso numa extensão do diálogo
artístico que os dois artistas mantiveram durante anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário